Três gerações, um trauma e o desejo de lembrar.

Acho que nunca antes li um primeiro romance tão arrojado na arquitetura e na linguagem — e tão bem resolvido.

JOSÉ EDUARDO AGUALUSA

IN: O TRIUNFO DA UBIQUIDADE. JORNAL O GLOBO

Mikaia é um romance que estabelece riquíssimas aproximações linguísticas entre Brasil e Moçambique. O corpo e a dança são imagens semânticas acionadas na enredo para evocar a memória. Uma bailarina negra, em cena, tentando lembrar as coreografias para seu maior espetáculo: a vida. O corpo se deslocando livre pelo espaço serve de perfeita metáfora para contar o que o leitor sentirá à medida que avançar pelas páginas desta história de encontros e desencontros.

Este é um livro de dor e afeto, entrecortado por imagens líricas que vão acalmando nossa comoção diante de um passado que não se pode alterar, mas que tampouco deve ser esquecido. A habilidade narrativa de Taiane Santi Martins nos leva à alma de uma história entremeada por silêncios, recordações e esquecimentos.

O abraço, o amor, a reconexão familiar, em meio à guerra, em meio ao deslocamento, à imigração e ao desejo de esquecimento do trauma, são os grandes temas deste romance. Ao contar o passado, Mikaia nos faz pensar o agora. Sem jamais nos abandonar, o passado pode ser a chave para nos reconectar com o presente.

Ao trazer como protagonistas mulheres negras que desejamos amar e escutar, o romance recria na dimensão literária histórias que nos foram tiradas por tempos de brutal invisibilidade. Se à primeira leitura Mikaia parece apresentar uma história sobre silenciamentos, ao final se entende que este é um romance de fala e, portanto, uma história que deve ser ouvida. Que possamos parar e escutar Mikaia, sentir com o corpo e o coração seus movimentos de esperança.”

texto de orelha por
Itamar Vieira Júnior e Luciany Aparecida