O hibridismo de Animais Diário começa pela capa anunciando o conteúdo que encontraremos pela frente. Não são exatamente contos e tão pouco são crônicas. Trata-se de um híbrido narrativo composto por trinta e seis ficções, divididas em três partes. Todas refletindo de alguma forma a animalidade do ser humano.
Mas, acima de tudo, Animais Diários é um belo exemplar de domínio da linguagem. Daniel tem uma capacidade de escolha de abordagens e palavras para esmurrar a sua cara que é impressionante; em meia página ele te faz engolir verdades com a naturalidade de quem faz a lista do supermercado. Além de um manejo exemplar dos trejeitos que concernem à fala. O texto “Shopping” é uma aula de construção de oralidade, dá até para ouvir as entonações da voz do personagem narrador.
Contudo, a aparição do brócolis como definição para “Coragem: uma palavra” será sempre uma das minhas sacadas preferidas. Talvez seja uma escolha um tanto tendenciosa por ter sido eu a escrever a palavra naquele papelzinho, na aula do Amílcar; mas certamente por ver a habilidade do Daniel em virar minha palavra preferida do avesso de tudo que eu pensaria para ela e ainda assim fazer tanto sentido.
No mais, encontrem um tempo para ler a palavra de Daniel Gruber. Talvez isso nos faça um pouquinho menos humanos, talvez isso nos faça um pouquinho mais Humanos.
